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Ernesto Villela – Reflexões sobre um modelo de marketing que precisa mudar

Publicado

em

Por Ernesto Villela*

Entender o consumidor moderno é bastante simples. Hoje ele é exigente, empoderado, inteligente e quer as coisas do seu jeito, no seu tempo e de preferência de graça. É ou não é? Nessa equação, a parte difícil ficou para os profissionais de marca que precisam transformar seu modelo de marketing e de relacionamento com esse novo consumidor. Afinal de contas, conquistar a atenção das pessoas num mundo hiper conectado será cada vez mais difícil, paradoxo esse que veio pra ficar.

Segundo pesquisa realizada pela Nielsen em 2018, a taxa de mortalidade dos lançamentos da indústria de bens de consumo rápido é superior a 80%. Isso mesmo, as poderosas marcas que todos conhecemos da TV estão fracassando mais de 80 vezes em cada 100 tentativas de lançar novos produtos nas prateleiras de farmácias e supermercados. O desperdício de tempo e recursos nesse processo é alarmante e comprova a tese de que as empresas de alimentos, bebidas, higiene e beleza continuam fazendo marketing antigo para consumidores novos. Se a fórmula de sempre não está funcionando, por que será que as empresas não mudam? Será que a novidade dos “likes”, “share” e “view” que o digital trouxe ao mercado não está sendo suficiente para ajudar empresas a vender perfume, chocolate, sucos e outros produtos de supermercado? Será que a salvação está no marketing de influenciadores ou estamos diante de mais um modismo do marketing moderno? Afinal, o que pode ser feito pelas empresas em busca de um mix de marketing mais eficiente e condizente com os anseios do consumidor moderno?

Para ajudar nessa reflexão, apresento abaixo um estudo interno feito pela Samplify que agregou informações de diversas fontes em busca da fotografia do investimento de marketing da indústria de bens de consumo nos dez maiores mercados de consumo do planeta. Vale lembrar que a grande maioria dessas empresas está passando por dificuldades e já não consegue garantir crescimento sustentável das suas operações.

Vamos aos fatos. O orçamento de marketing total da indústria CPG nos dez maiores mercados é de aproximadamente 109 bilhões de dólares, sendo que USA e China concentram cerca de 65% do volume, enquanto o Brasil recebe apenas 3.7%. Do total, quase ? do esforço (30.5%) é investido em preço e/ou desconto para varejistas (trade promotion). Em segundo lugar, ainda temos a TV (aberta e paga) que abocanha cerca de 13% da verba e fica apenas 1% acima do 3º canal que já é o mobile (12%). Investimento para converter o shopper dentro do ponto de venda (eventos, cupons e advertising) recebe cerca de 8.9 bilhões ou 7.9%. Com números em queda, temos jornal com 3.1%, rádio com 2.4% e revista com 1.6% da verba. O esforço em internet (desktop) recebe 6.4% do bolo enquanto mídia OOH fica com 2.9%, ou aproximadamente 3.1 bilhões de dólares. Em penúltimo lugar temos 1.2% do investimento em sampling (ainda concentrado no modelo antigo de promotor dentro do ponto de venda) e 0.4% do esforço em comunicação dentro de salas de cinema.

Ao analisar os números acima, verificamos coisas interessantes. A primeira delas é que preço e desconto no trade continua sendo o principal gatilho de investimento, estratégia perigosa, pois destrói margem e valor de categorias inteiras no médio e longo prazo. Se somarmos o esforço em digital (mobile, digital promotion e desktop), percebemos que cerca de 29.6 bilhões de dólares já são direcionados para essa frente, destaque para o mobile que já é o canal digital mais importante para as marcas. Já as mídias tradicionais agrupadas (TV, jornal, revista, rádio e OOH) continuam relevantes e concentram cerca de 23.1 bilhões de dólares ou 21% do esforço total. Em penúltimo lugar, chama a atenção o baixo esforço em sampling, experimentação e amostra grátis hoje com apenas 1,2% do esforço de marketing da indústria.

Voltando para o desafio de repensar o modelo de marketing das empresas de bens de consumo e alinhá-los com os anseios do consumidor moderno, várias perguntas precisam ser feitas para os profissionais de marketing, entre elas:

  1. Ao olhar o todo, onde estão as principais distorções e oportunidades de mudança?
  2. Será que a estratégia de queimar preço e dar desconto para fazer volume em detrimento da margem não está sendo praticada em excesso?
  3. Será que o consumidor está prestando atenção em propagandas na internet e nas minúsculas telas dos smartphones que abocanha 12% do investimento?
  4. Será que propaganda que interrompe e rouba o tempo do consumidor ainda faz sentido nos dias de hoje?
  5. Não seria a hora de repensar o modelo de planejamento de canais e criar novas linhas de investimento com iniciativas e esforços que geram valor para a comunidade e se mostrem verdadeiramente relevantes para o consumidor? Quem sabe um KPI de impacto social no investimento de marketing?
  6. É correto desinvestir em sampling e amostra grátis e não utilizar a qualidade dos produtos que saí da fábrica para convencer e dar confiança ao consumidor acerca de um novo produto? Será que o consumidor não quer ter a chance de experimentar as coisas antes de comprar?

Para finalizar, gostaria de trazer dados de pesquisa que chamam atenção e também observar movimentos de marketing de setores de tecnologia que estão ajudando a moldar esse novo comportamento de compra do consumidor moderno.

Um movimento que gostaria de destacar é o amadurecimento dos modelos de marketing “freemium”, largamente utilizados por empresas de tecnologia e que dão ao consumidor a oportunidade de experimentar produtos e serviços gratuitos antes de comprá-los. É o caso do Netflix, Spotify, Amazon, Apple, Samsung, Microsoft, Linkedin e várias outras marcas que hoje são referências na formação da opinião dos novos consumidores. Afinal de contas, ter a chance de experimentar as coisas antes de gastar dinheiro pra comprá-las é algo básico e que deveria ser regra de mercado para todos os setores, não acham? Será que é possível criarmos um modelo de marketing freemium para empresas de bens de consumo?

Em relação a pesquisas, gostaria de destacar dados publicados pelo Euromonitor, consequência de um estudo feito com consumidores de personal care a fim de entender os principais drivers de influência de compra. O resultado dessa pesquisa colocou preço, indicação de amigos e parentes, memória de experiências passadas e amostra grátis como os quatro principais drivers de decisão. Será que o mix de marketing apresentado acima está condizente com esse estudo?

A segunda pesquisa, “How to turn Millennials into repeat shoppers”, foi realizada pela Dotcom e publicada em setembro de 2018 no site e-marketer. Nela, o objetivo era descobrir o principal drive de compra e fidelidade das novas gerações (millennials) em plataformas e lojas online. A resposta principal foi: “Free Stuff” e chamou bastante atenção. Segundo a publicação, 75% dos millennials com idade entre 18 e 21 disseram que comprariam novamente em sites e lojas que dessem produtos e coisas gratuitas e inesperadas junto com a compra. Já com millennials de idade entre 22 e 37 anos, o número também foi surpreendente e ficou em 60% da base.

Mudar nunca é fácil, mas é o único jeito que temos para alcançar resultados diferentes, não é mesmo?

*Ernesto Villela é fundador e CEO da Samplify (www.samplify.com.br)

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Quais são os ingredientes para uma marca atingir relevância no mercado?

Publicado

em

*João Brognoli

Já é consenso de que não existe uma receita para o sucesso no mundo dos negócios. Nenhuma fórmula mágica que, se seguida corretamente, garante que uma empresa será relevante ou bem sucedida em seu mercado de atuação. Cada empreendedor ou gestor precisa saber, desde cedo, a necessidade de encontrar e construir o seu próprio caminho. No entanto, há ingredientes chaves que serão fundamentais para elaborar essa história.

Para ser relevante, invariavelmente uma companhia precisa passar por um processo de construção da autoridade. Nada confere maior peso à relevância de um negócio do que o estabelecimento de uma reputação positiva que abarca todos os aspectos associados à marca. A estruturação do posicionamento como referência em seu setor de atuação se dá por diferentes caminhos, passando desde a indicações e conquistas em premiações de mercado, pela presença de forma constante e qualificada na imprensa, até a produção de conteúdos relevantes e atualizados nas redes sociais. Tais esforços, combinados, podem conferir à empresa um protagonismo inquestionável em seu segmento.

No entanto, é preciso entender que a autoridade por si só é insuficiente sem o elemento vital da entrega de resultados. Independentemente do setor ou do tamanho da corporação, é impraticável preservar uma posição relevante no mercado sem atender às expectativas e demandas dos clientes e parceiros. O sucesso de uma marca é frequentemente medido pelo valor que ela entrega, refletindo diretamente na sua capacidade de gerar números tangíveis e satisfatórios. Se a produção não estiver coerente com o que é esperado, todo o resto à volta irá desmoronar, uma hora ou outra.

Pilares fundamentais

Apesar da ausência de uma fórmula definitiva para a conquista da relevância, é inegável que a construção de autoridade e a entrega de resultados são elementos fundamentais. Contudo, tais elementos estão longe de operarem de forma isolada. Na verdade, eles atuam muito mais como peças de um quebra-cabeça que se encaixam para gerar relevância e êxito de um negócio. Nesse sentido, costumo dizer que existem quatro pilares fundamentais que sustentam a autoridade e os resultados de uma empresa: vendas, gestão, performance e cultura.

As vendas representam a essência do negócio, pois são responsáveis por gerar receita e impulsionar o crescimento. Já uma gestão eficaz garante que os recursos sejam alocados de forma estratégica, os processos sejam otimizados e os objetivos obviamente alcançados. A performance, por sua vez, refere-se à capacidade da corporação em executar suas operações com excelência, mantendo altos padrões de qualidade e eficiência. Complementando tudo isso, a cultura organizacional molda todo o ambiente de trabalho, influenciando o comportamento dos colaboradores e a maneira como é conhecida, tanto interna, mas principalmente externamente.

Alcançar o equilíbrio dos pilares permite que uma companhia estabeleça uma base sólida, não apenas para manter sua autoridade, mas também para garantir resultados consistentes e significativos. Cada fator, atuando em harmonia com os demais, cria um ecossistema empresarial resiliente e adaptável às dinâmicas do mercado.

Sucesso por diferentes olhares

Da mesma forma que não existe um modelo único para se tornar relevante, é preciso sempre ter em mente que também não há uma única forma de sucesso. Existe, por exemplo, empreendedor que deseja ter sucesso financeiro e não tem interesse em ter uma posição de destaque na mídia, enquanto outros preferem assegurar o reconhecimento midiático do que um faturamento tão expressivo.

Independentemente dos objetivos específicos, é essencial que os empreendedores tenham uma definição clara do que constitui o sucesso para sua organização. Até porque, só é possível saber como chegar num objetivo após ter ele muito bem definido. Tal clareza facilita a escolha de estratégias e ferramentas adequadas, como as metodologias OKR, que proporcionam uma estrutura perceptível para a organização e acompanhamento de metas, alinhando toda a empresa em direção a um propósito comum.

Embora não exista um manual para a busca da relevância, a combinação de construção de autoridade, entrega de resultados e o fortalecimento de pilares estratégicos é uma receita que tende a ser extremamente saborosa. Apesar dos ingredientes serem muitas vezes compartilhados entre os empreendedores, o modo de preparo é que irá verdadeiramente trazer um toque diferente ao negócio. E hoje é o grande desafio das marcas que almejam notoriedade no mercado.

*João Brognoli – CEO e fundador do Grupo Duo&Co

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Governança digital é o pilar invisível por trás de uma boa campanha de marketing

Publicado

em

*Adalberto Generoso

Não é de hoje que as empresas passaram a realizar mudanças bruscas em suas campanhas de marketing. Atualmente, companhias de praticamente todos os segmentos estão apostando em metodologias impulsionadas por novas tecnologias e formatos para colocar essas ações em prática, visando um crescimento acelerado no mercado.

É dentro dessa realidade que a governança digital emerge como um pilar fundamental para o sucesso de qualquer negócio.

Mas, para entender essa importância, precisamos recapitular um pouco a principal finalidade das campanhas de marketing: atrair a atenção do público-alvo diante da abundância de canais e conteúdos. Trata-se de um grande desafio, que pede por alguns protocolos.

O maior deles é a necessidade de reunir materiais digitais em uma só plataforma de maneira organizada e estruturada, permitindo que o acesso aos arquivos seja controlado e mapeado, de modo que a empresa domine o uso de imagens, vídeos, apresentações, documentos, dentre outros elementos.

Assim, o time de marketing poderá ter uma visão ampla do seu campo de ação, executando com uma maior precisão projetos que tragam valor ao negócio. Ou, em outras palavras, campanhas impactantes que conversam com o cliente e geram a conversão.

Como uma plataforma DAM contribui para a governança digital
De todos os modelos e soluções presentes no mercado que podem ajudar uma marca a alcançar a governança digital, o DAM (Digital Asset Management) se destaca. A partir do momento que uma plataforma como essa se torna o acervo histórico da empresa, todos os seus materiais de comunicação são armazenados e distribuídos de modo seguro e assertivo.

Primeiramente, esse benefício se deve à sua capacidade de estabelecer padrões de segurança rigorosos. Todas as atividades que estão sendo realizadas dentro dos sistemas das companhias são controladas integralmente, o que não apenas garante um tratamento adequado dos arquivos, como também impulsiona a eficiência operacional e o levantamento de insights estratégicos.

Por exemplo, se olharmos para profissionais de marketing que possuem um salário médio de R$ 5 mil e uma carga horária de trabalho de 160 horas/mês, com uma plataforma de gestão de ativos digitais, a empresa pode economizar cerca de 80% do tempo e R$ 7 milhões nos processos de produção de campanhas. Consequentemente, os projetos tendem a trazer um Retorno Sobre Investimento (ROI) maior, podendo chegar a até 200%.

Inclusive, um relatório do Mordor Intelligence demonstra que as organizações estão atentas a esses atributos. A estimativa é que o mercado de DAM atinja cerca de US$ 5,2 bilhões este ano e dobre até 2029, trazendo uma taxa de crescimento anual de mais de 15,2%.

Vantagens de incorporar a IA ao DAM
Ao debatermos o setor de marketing na atualidade, também não podemos deixar de pensar na Inteligência Artificial (IA), principalmente no que se diz respeito às IAs Generativas. Essa tecnologia vai auxiliar cada vez mais as equipes de marketing a olharem para além do óbvio e, de fato, atribuírem à marca uma personalidade forte em suas campanhas.

Basicamente, em um futuro próximo, a tecnologia será capaz de criar conteúdos de base qualificados, permitindo que os profissionais tenham tempo para pensar “fora da caixa” e executem planos de ação complexos. Por outro lado, isso só será possível se esse recurso obter acesso a uma base histórica estruturada e categorizada da empresa.

Estamos falando de campanhas antigas, publicações, imagens de produtos ou qualquer outro material de comunicação que possa ser útil para o processo criativo de novos projetos. É nesse sentido que a incorporação dessa tecnologia ao DAM entra como um divisor de águas.

A plataforma já qualifica todos os ativos digitais da empresa, possibilitando que, eventualmente, uma IA Generativa seja utilizada de forma alinhada aos seus objetivos. Logo, cria-se um ciclo de produção organizado e consciente, sem um uso limitado desse recurso tecnológico.

Essa é a prova definitiva de que a governança digital não é só um conceito abstrato, mas sim um alicerce por trás das campanhas de marketing bem-sucedidas. Implementar as respectivas tecnologias corretamente – inclusive com a ajuda de parceiros especializados – deve ser uma das prioridades das marcas que pretendem construir crescer de maneira sustentável na realidade atual.

*Adalberto Generoso – Cofundador e CEO da Yapoli, referência em gestão de ativos digitais do Brasil.

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